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Pesquisa Histórica

ÁGUAS DE ARAXÁ: PRESERVANDO O TESOURO HÍDRICO

 

1 – Formação geológica

2 – Desemboque

3 – Chegada dos tropeiros

4 – Demarcação Sesmaria do Barreiro – 1785

5 – 1814 – Acordo entre fazendeiros

6 – Pesquisadores europeus

7 – Estudos sobre as águas minerais

8 – Exploração das águas minerais

9 – Desapropriações dos terrenos

10 – 1909 – Inauguração água

11– Casa de Banho - pensões – hotéis

12 – Tratamento crenoterápico

13 – Construção Grande Hotel

14 – Dr. Mário de Castro Magalhães

15 – Dona Beja

16 – Avenida Imbiara

17 – Minérios

18 – Exploração da CAMIG

19 – CBMM

20 – Arafértil – Mosaic Fertilizantes

21 – Assis Chateaubriand/Museu Histórico de Araxá – Doba Beja

22 – Referências Bibliográficas

 

Sugestão de entrevistas:

Fábio Drummond

Francisco de Castro Valente Neto – 99958.5750

 Sugestão de ilustrações:

Telas Calmon Barreto

Rotunda das Termas

Pinturas de Rocha Ferreira – Termas

1 – FORMAÇÃO GEOLÓGICA

                A Bacia do Barreiro é formada pelas fontes de água radioativa e sulfurosa, pelos pequenos córregos (Cascatinha, Baritina e Mata) que, ao final formam o Córrego do Sal e, também, por um corpo de rocha fundida.

 Muito antes, porém, esse lugar serviu de cenário para um fenômeno considerado interessante sob o ponto de vista geológico, e popularmente difundido como próprio de um vulcão.

Cientificamente é certo que neste local:

... Há cerca de 70 milhões de anos, o magma que estava em profundidade tentou sair à superfície, mas as rochas que estava acima impediram sua saída. Mesmo assim a pressão do magma foi tão grande que estas rochas foram empurradas para cima formando uma espécie de “verruga”. Posteriormente, o magma perdeu temperatura e diminuiu de volume, com isso essa “verruga” murchou, tomando o formato de uma bacia sendo a borda desta constituída pelas rochas antigas que impediram a saída do magma. (VALENTE Neto, 1996).

            Neste local foram encontrados, durante as escavações realizadas para a construção do Grande Hotel, ossos misturados à lama. 

            Este material fóssil foi submetido a estudos científicos na área da paleontologia e classificado como característico de mamíferos pré-históricos extintos. Estes fósseis pertenceram ao esqueleto de uma preguiça gigante, ao de um mastodonte (similar a um elefante, porém bem maior) e ao de uma espécie antiga de cavalo sul-americano, sem similar hoje.      

Araxá tem na sua formação geológica algumas riquezas minerais como as águas sulfurosa e radioativa, apatita (obtenção de fertilizantes) e pirocloro (uso na industrialização).

 

 

2 – DESEMBOQUE

Após a destruição dos quilombos em 1759 e tendo sido quebrada a resistência da população indígena, diversas expedições provenientes de Minas Gerais iniciaram a colonização de nossa região.

As expedições que passavam por nossa região em direção a Goiás, abriram caminhos ligando Minas Gerais à província de Goiás e ao longo destes caminhos surgiram núcleos de ocupação, dentre eles Desemboque e Araxá.

Em 1766, este território foi anexado a Goiás, como consequência do descontentamento que teria provocado entre a população a “derrama” (durante a Colônia, as capitanias que possuíam produção aurífera eram obrigadas a recolher, anualmente, cem (100) arrobas de ouro para a Coroa. Quando esta quantidade não era atingida se decretava a “derrama”, ou seja, eram cobradas dos proprietários das minas ou garimpos, cotas extras de ouro até completarem as 100 arrobas) decretada em 1764, pelo governo de Minas Gerais.

É atribuída a dois religiosos, o Vigário de Desemboque, Marcos Freire de Carvalho e o seu coadjutor, Pe. Felix José Soares, a responsabilidade de ter instigado os moradores em favor da anexação a Goiás.

Em 1811, Araxá foi elevada à categoria de Julgado desmembrando-se de Desemboque.

Curiosamente, foram os moradores deste Julgado que requereram e obtiveram em 04 de abril de 1816, a reincorporação das regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba à Minas Gerais, através de um abaixo-assinado onde fizeram as seguintes alegações: ter sido esta região conquistada por mineiros, os mesmos que as tornaram produtivas e a enorme distância que os separava das autoridades de Goiás.

Desemboque (hoje, distrito de Sacramento/MG) foi fundado a partir da exploração de ouro, mas, logo, o ouro do Rio das Velhas se esgotou. Os moradores foram obrigados a buscar outras formas de sobrevivência.

A pecuária, como nova forma encontrada, influiu decisivamente nos acontecimentos das últimas décadas do século XVIII: a descoberta das águas minerais do Barreiro.

 

 

3 – CHEGADA DOS TROPEIROS

            Entre 1770 e 1780 chegaram a Araxá os primeiros povoadores, muitos deles vindos de Desemboque, onde a decadência da mineração obrigou os seus moradores a se dedicarem à criação de gado. Foi assim que surgiram as primeiras fazendas da região de Araxá.

            A descoberta do sal mineral nas águas do Barreiro e a fertilidade dessas terras

atraíram criadores e tropeiros de Desemboque, e de outras localidades próximas como Itapecerica, Oliveira, Piumhi, Paracatu, Sabará e São João Del Rey.  A vinda de mineiros (nascidos nas vilas dedicadas, em grande parte, à exploração do ouro e diamante) e de generalistas (naturais do lado oeste da então capitania e depois província) culminou na formação de Araxá como Freguesia.

 

 

4 – DEMARCAÇÃO DA SESMARIA DO BARREIRO

            Em 1782, os criadores estabelecidos e assentados na área requereram à Capitania de Goiás a demarcação da Sesmaria do Barreiro (que, com frequência, aparece também nos textos como Sesmaria do Bebedouro).

A Carta de Sesmaria do Barreiro foi concedida em 27 de outubro de 1782 aos Srs. André Carvalho de Matos, Francisco Gonçalves Pacheco, Antônio Pereira, Joaquim Ferreira e Martinho Monteiro, algo incomum.

A Sesmaria do Barreiro foi medida e demarcada em 1785.

 

 

5 – 1814 – ACORDO ENTRE FAZENDEIROS

            Em 1814, o movimento dos criadores que levavam “a salgar” o gado no Barreiro era tamanho que foi necessário se organizarem e encaminharem uma petição ao Juiz Ordinário (única autoridade local) para que se estabelecesse uma pauta indicando o dia em que cada criador poderia fazer uso das águas.

            Saint-Hilaire, no seu livro “Viagem às Nascentes do Rio Francisco, fez a seguinte descrição:

o Barreiro é de propriedade pública. Num raio de 10 léguas, todos os fazendeiros da região levam até ali o seu gado, uma vez por mês, e cada um tem o seu dia certo, marcado pelo juiz. Os animais são levados à tarde para dentro de um recinto murado e ali passam a noite, bebendo à vontade. Na manhã seguinte são retirados. Os animais muito magros recusam-se às vezes a beber da água, mas seus donos forçam-nos a isso. É comum vários fazendeiros reunirem seus rebanhos e os levarem juntos ao Barreiro.

 

 

6 – PESQUISADORES  EUROPEUS

1816 – Wilhelm Ludwig von Eschwege – Barão de Eschwege, geólogo, geógrafo, arquiteto e metalurgista alemão fez os primeiros estudos científicos das águas minerais do Barreiro e comunicou a existência delas às autoridades portuguesas no Brasil.  Quando passou por Araxá em 1816, o cientista alemão registrou a existência de uma jazida de ferro próxima às fontes e a viabilidade de sua exploração.

1819 – Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire, botâniconaturalista e viajante francês, participou dos primeiros grupos de cientistas vindos da Europa para realizarem pesquisas e explorações no Brasil Colônia 

             Com 37 anos, viajou pelo Brasil, durante os anos de 1816 a 1822, financiado pela França, tendo escrito importantes livros sobre os costumes e paisagens brasileiros do século XIX. Durante este período em que viveu em meio a expedições, Saint-Hilaire percorreu inúmeros estados brasileiros. Entre eles, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas GeraisParanáGoiásSão PauloSanta Catarina e Rio Grande do SulIsso inclui viagens às nascentes do Rio São Francisco e do Jequitinhonha. O tempo de estadia e frequência eram variados, sendo que, por exemplo, estabeleceu-se por 15 meses em Goiás e viajou até Minas Gerais por três vezes. Sobre as condições do deslocamento, eram feitas majoritariamente por burros ou cavalos e os caminhos precisavam ser abertos por meio do facão, ação praticada pelos auxiliares, prioritariamente, escravos, em meio à mata virgem.

            Saint-Hilaire assim descreveu sua chegada ao Barreiro em 1819:

            Depois de ter caminhado uma légua e meia mais ou menos, por uma trilha bem batida, cheguei finalmente ao local onde se encontram as águas minerais e ali é chamado Barreiro.

            Num ponto sombrio da mata, onde as árvores são mais juntas e mais folhudas, há um espaço com cerca de 600 passos de circunferência, cercado por um muro de arrimo e inteiramente tomado por uma lama negra e compacta. É do meio dessa lama, em cinco ou seis pontos diferentes, que brotam as fontes de água mineral.

            As águas são límpidas e de cor avermelhada, com um gosto amargo que lembra ao mesmo tempo o de ovos podres. A menção dessas simples características é suficiente para mostrar que elas são sulfurosas e, em consequência, poderiam ser empregadas na cura de todas as doenças para as quais são aconselhadas águas desse tipo, e em particular moléstias de pele, tão comuns no Brasil.

 

 

7 – ESTUDOS SOBRE AS ÁGUAS MINERAIS

1886 – Dr. Orville Adalbert Derby, geólogo e geógrafo estadunidense naturalizado brasileiro realizou o primeiro estudo geológico da região do Barreiro.

1886 – Dr. Mello Brandão procedeu a primeira análise química das águas.

1890 – Conselheiro Joaquim Monteiro Caminhoá, brasileiro, foi membro da Academia Imperial de Medicina e na sessão do dia 8 de maio de 1890, apresentou um trabalho dom o título Estudo das “Águas Minerais” sobre as águas minerais de Araxá (Minas Gerais), suas características, seu potencial de cura da tuberculose pulmonar e seu uso industrial, especificamente a fabricação de sabonetes.

 

 

8 – EXPLORAÇÃO DAS ÁGUAS MINERAIS

1889 – Os Drs. João Teixeira Álvares e Oliveira Botelho solicitaram ao município e obtiveram uma concessão para a exploração das águas do Barreiro. Com este objetivo foi montado um modesto sanatório. Tempos depois este privilégio foi vendido a uma empresa do Rio de Janeiro que o deixou caducar.

1895 – Mais uma vez Dr. João Teixeira Álvares e Dr. Eduardo Montandon obtiveram uma concessão para beneficiamento das águas. Essa concessão não tendo sido executada, foi considerada nula pela Câmara Municipal e em 1903, foi outorgada novamente ao Dr. João Teixeira Álvares desta vez associado ao Cel. Joaquim Pereira Goulart. 

 

 

 

9 – DESAPROPRIAÇÃO DOS TERRENOS

            No final do ano de 1903 a municipalidade requereu a desapropriação dos terrenos próximos às fontes, desencadeando uma longa disputa judicial entre a Câmara Municipal e os expropriados, que culminou com a transferência do domínio sobre as águas do Barreiro para o governo de Minas em 1914.

            A desapropriação dos terrenos e a sua doação ao governo do Estado de Minas Gerais fizeram parte do acordo entre a Câmara Municipal e o governo mineiro. Em contrapartida, o Estado criaria, em 1915, a prefeitura, possibilitando o prefeito nomeado de administrar a cidade com o apoio direto do governo estadual, inclusive o financeiro.

            Em fevereiro de 1917, no Diário Oficial foi publicado o contrato de arrendamento das águas de Araxá entre o estado de Minas e os Srs. Thiers Botelho e Antônio de Castro Magalhães.  No contrato estavam previstas as seguintes condições: realizar nas fontes obras de melhoramento que não poderiam ultrapassar o valor de 70 contos de réis; apresentar, imediatamente após a assinatura do contrato,  planta das obras prevendo sua conclusão no prazo de 6 meses, sob pena de serem anuladas sem indenização e devolução do dinheiro empregado; multa por atraso nas obras; demolição de qualquer serviço feito sem a autorização da Secretaria de Agricultura, assim como punição, caso as obras afetassem a captação das águas; impostos sobre a exportação das águas e,  caso o estado retomasse as fontes, seria obrigado a indenizar os contratados a quantia gasta.

 

 

10 – INAUGURAÇÃO DA ÁGUA

            Durante muito tempo, a população reivindicou o serviço de água potável. No dia 08 de dezembro de 1808, nas imediações da atual Rua Augusto Luís Coelho, foi inaugurado este serviço que contou com a presença de araxaenses e de representantes dos distritos que compunham o município.

             

11 – CASA DE BANHOS – PENSÕES E HOTÉIS

            A descoberta do valor terapêutico das águas do Barreiro foi bastante veiculada na imprensa local e, em 1890, foi criada a “Gazeta de Araxá” com o objetivo de divulgar o tratamento crenoterápico aqui realizado de forma pioneira por um sanatório.  

            Foram construídas as primeiras pensões e a primeira Casa de Banhos.

            Com o aumento do número de pensões e hotéis inaugurados no Barreiro e na cidade para hospedar os aquáticos, a Casa de Banhos foi ampliada.

            Os anúncios que faziam propaganda de Araxá atribuíam o triunfo das águas milagrosas à existência de vistas panorâmicas, bellos parques e jardim de recreio com pomar.

            As casas de regimens, atrativos de alguns hotéis e consultórios médicos, investiam em alimentação adequada aos aquáticos acometidos por doenças.

            O zelo com a saúde física e a busca de clima ameno fizeram do Barreiro um lugar para temporada das elites, principalmente a dos grandes cafeicultores paulistas.

             

 

12 – TRATAMENTO CRENOTERÁPICO

            A Crenoterapia é um tratamento realizado por meio da ingestão e banho de águas minerais. Também conhecida como termalismo, essa terapia envolve o uso de águas termais para prevenir e combater diversos problemas de saúde, e tem como base a utilização de recursos naturais como: vapores, gases e lamas.

 

 

13 – CONSTRUÇÃO DO GRANDE HOTEL

            Para atender ao desenvolvimento do turismo cada vez mais crescente, foi criado, no final dos anos 1930, o projeto arquitetônico “Complexo Hidrotermal do Barreiro” que compreendia o Grande Hotel as Termas, as Fontes Dona Beja e Andrade Júnior, a praça de esportes, as lagoas e os jardins.

 

 

 

 

Grande Hotel do Barreiro

O projeto assinado pelo arquiteto Luiz Signorelli foi realizado em parceria com o também arquiteto Raffaello Berti, seu amigo e sócio que, embora tivesse seu diploma registrado no Brasil, não pôde assinar a coautoria por ser estrangeiro. Seu estilo é definido por uns como eclético e por outros como missões.

Os arquitetos Raphel Hardy Filho (autor da Fonte Dona Beja) e Shakespeare Gomes (realizou os desenhos técnicos de diversos projetos do Barreiro) trabalharam no escritório de Luiz Signorelli em Belo Horizonte.

Os jardins foram projetados por Roberto Burle Marx e as paredes do Grande Hotel são decoradas por murais de Rocha Ferreira.

O Grande Hotel possui aproximadamente 45 mil metros quadrados, divididos em seis pavimentos. Cada pavimento mede em torno de cento e quarenta e quatro metros de comprimento por trinta e sete metros de largura, além do porão e dos sótãos.

 

Edifício das Termas

            Executado pela Construtora Carneiro de Rezende & Cia., de Belo Horizonte, foi construído com a finalidade de abrigar os banhos e outras atividades hidroterapêuticas. O edifício é formado por um volume de aproximadamente cento e vinte e cinco metros de comprimento por sessenta e sete de largura que abriga dois pavimentos e um porão. A composição é a mesma do Grande Hotel, ou seja, três blocos transversais que se ligam por um corpo longitudinal. O acesso se dá por meio de uma escadaria ou rampa para veículos.

            O núcleo central das Termas é constituído de uma rotunda de pé direito duplo, coberta por um domo translúcido e iluminada por um vitral. O referido vitral, autoria do artista alemão Frank Urban, é composto de nove painéis que representam a história da região de Araxá:

1 – Formação geológica: Vulcanismo.

2 – Vida antediluviana: Presença de animais pré-históricos.

3 – Cena religiosa: Presença dos índios Araxás.

4 – Entrada de brancos na terra dos Araxás.

5 – Descoberta das águas e seu uso primitivo.

6 – Presença do negro: banho de água corrente.

7 – Chegada dos tropeiros: a água e o sal do Barreiro na importância da recria e engorda do gado.

8 – Início da exploração das águas com fins medicinais: Primitiva Casa de Banho.

9 – Central: organograma dos meios de transportes e comunicações existentes entre Araxá e os grandes centros nacionais e estrangeiros

            As paredes entre o vitral e o piso superior exibem oito painéis do artista Joaquim da Rocha Ferreira, que retratam a Evolução dos Banhos na História da Humanidade:

1 – Templos Bíblicos – banho de cascata.

2 – Civilização Egípcia – banhos quentes.

3 – Civilização Assírio-Caldáica – banho de água corrente.

4 – Civilização Hindu – banho no rio sagrado.

5 – Civilização Grega – banhos públicos – Termas.

6 – Civilização Romana – banhos públicos – Termas.

7 – Século XVII – balneários.

8 – Atualidade – mar.

            Rocha Ferreira pintou, ainda, nas paredes do pavimento térreo, uma série de painéis em afrescos (pinturas de tons mais claros) que descrevem a história de Araxá:

1 – Roteiro de Lourenço Castanho Taques, notícia da existência dos Índios Araxás;

2 – Expedição de Ignácio Corrêa Pamplona, encarregado do povoamento do oeste mineiro;

3 – O aparecimento do ouro em grande quantidade, a seis léguas, rumo ao sul, no Desemboque;

4 – Desemboque – segundo núcleo de civilização do Triângulo Mineiro;

5 – Riqueza econômica da região – a pecuária;

6 – Consolidação da conquista de Araxá e outros temas como Dona Beja, os estudiosos das águas minerais do Barreiro e a confirmação do seu valor terapêutico.

            A parte central conta com áreas de sanitários, duas escadarias e um elevador, bilheterias, posto de informações e a central do sistema que determinava a duração dos banhos (relógio de controle). Voltadas para o lago, localizam-se as instalações da piscina emanatória com água aquecida. Dois painéis com azulejos assinados pelo artista Rocha Ferreira e fabricados no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, retratam a figura de Dona Beja e os personagens da mitologia helênica: Perseu e Andrômeda.

            No piso superior, encontram-se duas alas com diversos equipamentos de hidroterapia: banhos, duchas, sauna finlandesa, área de massagens.

            Os dois blocos que ligam o volume central aos laterais, nos dois pisos, são ocupados pelas seções de banhos sulfurosos.

As alas de banho de lama estão localizadas no pavimento térreo.

 

Fonte Andrade Júnior

            Nome atribuído ao hidrólogo, professor e engenheiro José Ferreira de Andrade Júnior, autor dos estudos e do projeto de captação das águas sulfurosas e radioativa.  Natural de Ouro Preto, nasceu em 09 de janeiro de 1895.

            Em 1924, ela realizou a análises geológicas numa extensão de 200km a partir da faixa das fontes minerais do Barreiro.

            Em 1926 centrou sua atenção, sobretudo, na radioatividade da Fonte Dona Beja.

            Considerando resultados anteriores, em 1928, dedicou-se a um raio de menos de 20 km que incluiu o Barreiro como centro. Assim, o cientista explicou o modo de emergência da água e a hipótese de sua origem. Na época, este trabalho foi publicado e contou com a participação do Professor Djalma Guimarães.

            Durante muitos anos dirigiu o “Laboratório Central da Produção Mineral” no Rio de Janeiro e lecionou na Escola de Química da Universidade do Brasil.

            O estilo moderno do edifício contrasta com o do Grande Hotel e das Termas, porém, convivem em harmonia com os jardins de Roberto Burle Marx, que o circundam.          Seu autor, Francisco Bologna, optou por uma estrutura em formato ondulado – de concreto armado e vidro. Os pilares e o perfil da laje foram revestidos com mármore travertino.

A fonte está localizada em uma península formada em um pequeno lago desenhado por Burle Marx, defronte ao Hotel e às Termas onde foi construído o tanque de armazenamento da lama sulfurosa e pavilhão onde estão instalados os bebedouros e as réplicas de fósseis de espécimes da fauna pré-histórica da região.

Burle Marx fez os desenhos do piso defronte o prédio, em pedra portuguesa, inspirados nos animais cujos ossos foram ali encontrados, posteriormente classificados como pré-históricos. Os azulejos têm a mesma inspiração. Os bebedouros da Fonte Andrade Júnior são também de autoria de Burle Marx.  

A sua construção foi iniciada em 1944 – mesmo ano da abertura do Hotel e das Termas – e inaugurada em 1947.

 

Fonte Dona Beja

Raphael Hardy Filho, autor do projeto da nova fonte, aproveita o declive da área onde brotava a água radioativa, para criar um conjunto edificado em vários níveis.

A fonte de água radioativa foi batizada com o nome de Dona Beja que, segundo a lenda, costumava tomar banhos naturais no local.

            O edifício é composto de dois pavimentos. No interior do primeiro pavimento se encontra um salão com bancos, uma gruta estilizada em forma de chafariz circundado por motivos em alto-relevo, por onde corre a água radiativa canalizada e ao lado, um bebedouro. Na parede central, um painel de azulejos, criação de Rocha Ferreira, retrata o descanso dos escravos e o banho de Dona Beja.

            O segundo pavimento é constituído por um mirante semicircular, coberto por um pergolado. O seu acesso se dá por meio de uma escada lateral construída na própria encosta.

            Em frente à Fonte Dona Beja e voltado para o lago, localiza-se, no nível inferior, o bloco das duchas cuja entrada se dá através de duas escadas laterais. No seu interior, existe um corredor e oito cabines para duchas “cascata”. Cada cabine contém um vestiário e uma área de banho.

 

Praça de Esportes

            A Praça de Esportes foi implantada nos arredores do Lago Superior, na margem Leste. A piscina, o vestiário e as duas esculturas da entrada da Praça integram o projeto original de Luiz Signorelli, enquanto os parques e jardins ficam a cargo de Roberto Burle Marx. Nela constam, ainda, uma quadra poliesportiva, quadras de tênis, rinque de patinação, além de área de estar e edifícios de apoio para atividades esportivas.

            Durante os 50 anos, desde sua abertura oficial até seu fechamento em 1994, o Grande Hotel e as Termas acumularam os estragos que a ação do tempo, a falta de manutenção e o descaso dos organismos responsáveis lhes infringiram.

            Em 1994 o governo municipal decidiu solicitar a interdição, uma vez que, o estado calamitoso de suas instalações representava um perigo para os usuários.

            Em julho de 1997, começaram os trabalhos de restauração sob a supervisão do IEPHA, órgão responsável pelo complexo, enquanto patrimônio tombado pelo estado.

            Numa primeira etapa foram restauradas as Termas, as Fontes e os Jardins e em 19 de dezembro de 2001 o Grande Hotel, totalmente restaurado, bem como seu mobiliário original, foi reaberto sob a administração do Grupo Tropical-Varig. De 2005 a março de 2010 foi administrado pelo Grupo Ouro Minas. Desde março de 2010 está sendo administrado pelo Grupo Tauá.

 

 

14 – DR. MÁRIO DE CASTRO MAGALHÃES

            Filho do Capitão Antônio Chaves de Magalhães e de Maria José de Castro, nasceu em Oliveira/MG, no dia 02 de julho de 1892. Com 12 anos mudou-se com a família para Araxá.

            Em 1916 formou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendo e publicando tese sobre obstetrícia.

            De volta a Araxá, começou a clinicar em consultório instalado no centro da cidade e logo se tornou o “primeiro médico oficial das fontes”. Como médico crenologista sonhou fazer de Araxá “um paraíso para repouso e descanso”., oferecendo tratamento médico por meio das águas.

            Em 1925, com o interesse da profissão voltado para o aproveitamento do potencial das águas minerais e da lama, permaneceu oito meses na Europa, especializando-se em gastroenterologia na Faculdade de Medicina de Paris. Estagiou em clínicas de estâncias balneárias francesas e alemãs, cujos tratamentos poderiam ser aplicados em Araxá.

            Participou de congressos no Brasil e no exterior, ministrando conferências sobre as nossas águas. Publicou trabalhos científicos sempre divulgando a história e o potencial do Barreiro.

            Participou da fundação da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Araxá, foi presidente e esteve à frente de dois congressos médicos aqui realizados.

            Como vice-prefeito eleito pelo Partido Social Democrático (PSD) em 1947, chegou a assumir o cargo de prefeito durante licença do titular.

            Na década de 1950 idealizou a fundação do Instituto de Hidrologia e Climatologia de Minas Gerais e foi membro do Conselho da Biblioteca Pública Municipal de Araxá.

            Com a criação da HIDROMINAS em 1964, integrou o seu Conselho de Climatologia e Crenoterapia.

            Foi casado com Juvenília Aguiar e tiveram 4 filhos.

            Por mais de meio século dedicou-se ao estudo das águas minerais do Barreiro e lutou pelo seu real aproveitamento.

 

 

15 – ANNA JACINTHA DE SÃO JOSÉ – DONA BEJA

             Foi uma mulher que viveu no século XIX. Nasceu em Formiga/MG no ano de 1800, filha de Maria Bernarda dos Santos. Teve um único irmão, Francisco Antônio Rodrigues.

Existem referências sobre a trajetória de Dona Beja, tanto em Araxá quanto em Estrela do Sul (antes, chamada Bagagem) onde ela passou a segunda metade de sua vida.

Segundo a tradição oral, coube-lhe o mérito da reintegração do Triângulo Mineiro para Minas Gerais, em 1816, quando a região pertencia a Goiás. Este episódio, teria ocorrido após o período em que viveu em Paracatu, depois de ter sido raptada, em 1814, pelo ouvidor Joaquim Inácio Silveira da Mota, durante a sua passagem por Araxá.

Depois disso, Dona Beja teria voltado a Araxá para recomeçar a vida. De fato, em 1819, aqui é batizada sua filha, natural, Thereza Thomázia de Jesus.

Solteira, ela teve duas filhas: Thereza Thomázia de Jesus e Joana de Deus de São José.

Mesmo sendo mulher, analfabeta, mãe solteira, alcançou uma posição social de destaque. Isso se deu pelo fato de ela ser proprietária e moradora de um sobrado situado no entorno da Praça da Matriz, onde estavam localizadas a Igreja, a Câmara e as melhores residências da então Vila do Araxá.

Outras provas do seu prestígio: os escravos que possuiu, a propriedade rural — a Chácara da Beja — popularmente conhecida como Chácara do Jatobá e o casamento de suas filhas com membros da elite local.

Por volta de 1850, Dona Beja mudou-se para Bagagem, estimulada pelo desejo de ali encontrar diamantes. Aí, estabeleceu e viveu até sua morte, em 1873.

A partir da década de 1920, quando o Barreiro se transformava em função do seu aproveitamento como estância hidromineral, a antiga fonte radioativa começava a ser chamada, informalmente, de Dona Beja.

Este foi um dos primeiros passos para a construção do importante mito de nossa história.

Na literatura, na dramaturgia, no meio acadêmico, no carnaval carioca, enfim, na mídia nacional, o tema Dona Beja veio reforçar a ainda mais esta construção.

A sua existência histórica e o seu fortalecimento como mito justifica o nome do Museu Histórico de Araxá, da Fonte de Água Radioativa, de eventos culturais, esportivos e de inúmeros estabelecimentos e produtos comerciais.

 

 

16 – AVENIDA IMBIARA

            Algumas denominações de ruas e lugares como Avenida Imbiara, caminho das águas, estão incorporadas ao cotidiano da cidade e nos remetem ao seu passado indígena.

 

 

17 – OS MINÉRIOS

A partir de1950, estudos geológicos comprovaram a presença de dois minérios: nióbio e apatita.  

 

 

18 – CAMIG

            Em 05 de novembro 1953 é instalada a FERTISA (Fertilizantes Minas Gerais S/A) criada pela Lei Estadual 1.007 sancionada pelo governador Juscelino Kubitschek de Oliveira. Em 21/12/1957 através da Lei nº 1.716 é criada a CAMIG (Companhia Agrícola de Minas Gerais) que incorpora o ativo e o passivo da FERTISA. Ela passa a deter os direitos de lavra da apatita (fosfato) e do pirocloro (nióbio). Em 1972 é constituída a COMIPA (Companhia Mineradora do Pirocloro de Araxá) com a participação acionária da CAMIG e da CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração). São arrendados à CBMM os direitos de lavra para a produção de nióbio. Neste mesmo ano a CAMIG arrenda à ARAFÉRTIL (Araxá Fertilizantes S/A, atual Mosaic Fertilizantes) a exploração de reservas de apatita. Em 11/12/1990, através da Lei 10.316, o governador do Estado altera a denominação da CAMIG para COMIG (Companhia Mineradora de Minas Gerais). Pela Lei 11.406 de 26/01/1994 a COMIG incorpora todo o patrimônio da HIDROMINAS (Águas Minerais de Minas Gerais) inclusive o Complexo Grande Hotel e Termas de Araxá. A HIDROMINAS é criada em 1961 sendo indicado o araxaense Edgard Maneira como primeiro diretor executivo. Em 17/12/2003 através da Lei Estadual 14.892 é criada a CODEMIG (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais) que incorpora a CDI/MG (Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais), da TURMINAS (Empresa Mineira de Turismo) e os ativos da CODEURB (Companhia de Desenvolvimento Urbano de Minas Gerais).

 

 

19 – CBMM 

            Em 22 de outubro 1955 inicia-se a extração do minério nióbio, após a descoberta das jazidas de pirocloro pelo geólogo Djalma Guimarães em 1953. Em 1965 a Família Moreira Salles assume o controle da CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração) empresa privada brasileira de mineração, metalurgia e tecnologia líder mundial em seu campo de atuação, que tem como foco o desenvolvimento de tecnologias e produtos do nióbio.

 

 

20 – ARAFÉRTIL

                ARAFERTIL S/A (hoje, Mosaic Fertilizantes) foi criada em 1971, com a finalidade de explorar a reserva de fosfato existente em Araxá e, industrializar o fertilizante fosfatado da apatita.

 

 

 

 

 

21 – ASSIS CHATEAUBRIAND/MUSEU HISTÓRICO DE ARAXÁ – DONA BEJA

            O contato do jornalista Assis Chateaubriand com Araxá foi consequência do duplo derrame que sofreu em 1960 e do qual sobreviveu, porém, tetraplégico e incapacitado de comunicar-se oralmente.

            O longo caminho que percorreu atrás de possíveis tratamentos que revertessem as sequelas o conduziu às águas termais do Grande Hotel do Barreiro em Araxá, onde passou longa temporada em 1964.

            Foi nessa época que Chateaubriand decidiu criar um museu para a cidade. A Empresa Jornalística Estado de Minas Gerais, braço dos Diários Associados no Estado adquiriu o casarão datado da primeira metade do século XIX, em estilo colonial mineiro e, restaurado pela HIDROMINAS. A escolha do nome Museu Regional Dona Beja foi inspirada na figura do mito que, nessa época, começava a se delinear e ganhar força em Araxá e região.

            A inauguração do Museu ocorreu em 4 de setembro de 1965, ano em que se comemorava o centenário da cidade.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LIMA, Glaura Teixeira Nogueira. Das águas passadas à terra do sol; ensaio sobre a história de Araxá. 2ª. edição. Araxá: Bunge Fertilizante, 2003.

SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem às nascentes do Rio São Francisco. Belo Horizonte: Itatiaia, 2004.

Arquivos da Fundação Cultural Calmon Barreto

O Trem da História, Araxá, n. 7, p. 4 – out./dez. 1992.

O Trem da História, Araxá, n. 10, p. 4 – jul./ago. 1993.

O Trem da História, Araxá, n. 18, p. 6 – jul./dez. 1995

O Trem da História, Araxá, n. 19, p. 8 – jan./fev. 1996.

O Trem da História, Araxá, n. 21, p. 6 – jul./dez. 1996.

O Trem da História, Araxá, n. 27, p. 3 – out./dez. 1998

O Trem da História, Araxá, n. 28, p. 10 – jan./abr. 1999

O Trem da História, Araxá, n. 50, p. 18 – nov. 2015

 
 
 

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